Estamos assistindo a uma olimpíada ‘ao vivo’ enquanto a cidade festeja sua emancipação. Durante o Julho das Pretas, o movimento SOS Articulação de Mulheres Negras de Lauro de Freitas apresentou uma manifestação por melhores 0políticas públicas. Além da coincidência temporal, o que mais há de comum nessas três situações?
A participação do Brasil na olimpíada é pífia e insignificante. Onde está o espírito olímpico? A olimpíada é mais do que uma competição; é uma celebração. Assim como Lauro de Freitas celebra sua emancipação. Êba!
Lauro de Freitas é uma pequena porção do Brasil com muitos 'Lauros de Freitas'. O que têm em comum esses diferentes Brasis? Nem me fale! O que interessa para as mães de família que os povoam?
Gente, o dia já amanheceu e os meninos precisam ser levados para a creche. Dona Maria está grata por ter onde eles ficarem e comerem, mas Seu Zé se preocupa porque os maiores não aprenderam nada na escola e vão ter que enfrentar os mesmos perrengues que ele enfrentou na vida. Júnior vai para o hip hop e cria suas poesias, que todos adoram. Ele posta nas redes sociais, curte muito, mesmo tendo que cuidar da manutenção dos banheiros químicos para as festas. Enquanto isso, em sua rua, em Portão, o esgoto corre a céu aberto para o Rio Joanes, que um dia já foi ponto de lazer e sustento para seus avós.
Júlia, a irmã de Júnior, conseguiu uma vaga na faculdade particular com uma bolsa do Prouni. Ela está fazendo um curso superior, mas ainda enfrenta muitas dificuldades na leitura. A faculdade ajuda no que pode, mas é difícil superar as falhas da educação básica. Júlia se arrasta para uma deformação universitária, enquanto trabalha e alivia o estresse nos cultos à noite, aterrorizada pela violência do bairro, que levou cinco amigos de infância só no último ano, quatro dos quais com envolvimento policial.
Sua vizinha conseguiu uma vaga na educação. Ela é uma liderança comunitária. Não vai trabalhar, mas está comprometida com a campanha. Garantiu uma ‘oportunidade’ para Júlia assim que der ‘tudo certo’. Júlia sabe o que isso quer dizer: ‘nada’.
Júnior chegou agora da festa de emancipação e come um pão que trouxe da rua. A margarina acabou, mas o café ralo ajuda. Mal sabe que perdeu o emprego. Quando souber, vai comemorar junto com mais um bronze conquistado pelo Brasil, na perigosa esquina frequentada pelo movimento.
Vida que segue...
Precisamos espalhar esperança, cada um tem um calo no pé, se seguem se esbarra, dói, mas para os mais novos e claro pros mais velhos também, vislumbrar esperanças fará bem, o amor só não vence, mas já é um empurrão, depende de nós, muito. Parabéns Rudá, avante!
Ótimo texto. Mayra