Êba! Ipitanga. Eba!
Santo Amaro de Ipitanga
foi saqueada.
Lhe levaram até o nome.
Mas resiste no peito
dos que se sentem nativos
e a trazem amada!
No entanto o saque continua...
Um retrato em preto-e-branco
de um Brasil desbotado
pela miséria administrada.
Orquestra de vampiros infames
que nos tira a alma
e nos deixa coisa, animal.
Ferramentas a serviço
das demandas milionárias
de além mar,
do sonho americano,
do capital.
Mas o que é Ipitanga?
É a rua?
O riu?
O mar?
A terra?
Digas tu?
Digas Tu?
Digas Tu?
O que é Ipitanta?
O que é Ipitanga?
O que é Ipitanaga?
Não temos identidade!
Impõem a nós
uma educação para
produção do que?
De lucros para os que
habitam os paraísos de acolá?
que nos deixam as
migalhas que justificam
a escrota desigualdade
social que nos separa?
A insana corrupção
que faz de marionete
os chatos
a penduricar os sacos
dos opressores?
E nem sequer resvala!
Me assombra!
À sombra lealdade.
E tudo é importante:
O politicamente correto
As apropriações culturais
Discussões para horrorizar o tédio
Ter a prole por esperto
Restem currais, currais, currais!!!
Deixemos os povos dizimados
apartados de sua cultura...
clamor e dor...
nada podem reclamar...
desterrados cada vez mais,
empurrados pra miséria dos vinténs.
Horror!
Os navios negreiros se apagaram
pelos idos interesses
mas não cessou o clamor.
Não cessou a dor.
Reverberam também em navios outros.
Navios cargueiros
a rasgar os oceanos
levando nosso suor,
Iates disfarçados
pelas plagas financeiras
a deixar-nos apartados
da fartura nativa,
da abundância que nos cerca.
Seguimos distraídos.
Tão bom uma distração.
Isso cansa tanto!
Peça o pão,
aceite o circo.
E vai passando.
Os arroubos da juventude
sucumbem ao anoitecer burocrático,
consumindo o que dantes combatia...
Porque é assim mesmo.
Porque é assim mesmo!
Porque é assim mesmo?
Parece que bala em pobre
nunca é perdida.
Miseráveis bandidos disfarçados.
Porque massacras
tanto teu irmão?
Porque das frutas estragadas
cobradas nas gôndolas?
Porque tua fome não tem fim?
Porque tu escondes o saber?
Me bastaria um aipim,
minha lição e
alegria de viver!
Mas sem lição
a miséria prolifera,
a enxada nos espera,
o peso nas costas
pra toda vida,
a sentença,
a bebida.
Dai-me um aipim!
Talvez um púlpito
seja um resgate
ao preço certo.
Quem sabe?!
Meu amigo não se engane.
Quais mãos estão limpas?
Mas criou-se Deus
que então
nos enviou Jesus:
- quem não pecou
que atire a
primeira pedra.
Mas quem não pecou
nunca que vai atirar uma pedra.
Este está além.
É o Santo.
Bem aventurados
todos aqueles
vítimas da miséria...
do desgoverno...
dos colonizadores.
Todos escravizados...
pagam suas contas
para seus carrascos sorridentes.
Mas pelo menos
são bem aventurados!
Nossos metais,
nossa energia,
nossos grãos,
nossa água,
nosso verde,
nosso sangue...
tudo daqui,
pra ser daqui,
mas é tudo deles.
E tome chibatadas...
Ainda temos que pagar...
a conta nunca acaba...
misteriosas chibatadas...
É nós!!!
nossos irmãos
outros escravizados
também!!!
E tome mais chibatadas!!!
Eis que surge a patética blasfêmia hipócrita
Da inocência desmedida dos dementes
E do cachimbo, trago, cuspo, espio a morte
Aos furtos corpos brutos, dormentes
Louvores de cantares tardios
Oh! Santo Amaro...
Intercedei por nós...
povo do Ipitanga!
Amem!
Autor: Peri Rudá
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