O balão da ilusão
A felicidade é colorida e, aqui no Nordeste, sendo responsável pelas memórias magníficas dos meus tempos de criança, adolescência e juventude, adquire forma e cores de balão junino, pois sonhado e elaborado por diversas mãos, que apesar de parecerem inábeis e grosseiras, surpreendentemente, agem como especialistas na arte mágica de fazer balões. Benditas mãos que exprimem nas extremidades dos dedos, os sonhos e saudades que só cabem em universos singulares que se irradiam em fluxos contagiantes e, às vezes em visões coletivas, que se identificam e se compreendem profundamente sem necessidade de muitas palavras, embora o vocabulário limitado, não permita grande amplitude, senão através de olhares que expressam sabedoria e sentimentos conectados nesses sofridos, mas alegres patrícios. Trovadores, cantadores e repentistas, como em uníssono captaram os sentimentos de outrora e verbalizaram a máxima: olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo (não tanto, quanto o teu enigmático olhar; mas, enfim...), olha prá aquele balão multicor, que lá no céu vai surgindo.
Envoltos em espessas brumas que o tempo, teimosamente, insiste em apagar de nossas memórias, os festejos juninos de outrora, sagradamente guardados nos corações, permanecem cristalizados nas mentes, como mecanismos de defesa dos tesouros que enriquecem nossa essência. Para além do aqui, para além do agora, serão revisitados no porvir com os olhos d’alma, daqueles, cuja imaginação encontre campo fértil para as sementes que árvores genealógicas seculares semearam com diferentes estórias e folguedos como se fossem sonhos que impregnaram essa fase inocente, mas crucial de nossas vidas. Que elas lhes permitam viajar, assim como fizemos, nesse tempo mágico e ilustrado com as mais belas lembranças e estórias de personagens que nos foram importantes, marcaram nossas vidas e moldaram nosso futuro, fazendo-nos enxerga-la com mais leveza, com mais poesia.
Sentimento que resiste e insiste em estar presente em todos, às vezes nostálgico, às vezes incômodo, muitas vezes reconfortante, com apoio da imaginação que nos leva a reviver momentos inesquecíveis, a saudade, esse ente abstrato, está acima das classes sociais, credos religiosos e ideológicos, sem constituir privilégios. Como Inspiração é cantada e imortalizada em verso, prosa e melodia, pelos mais diversos expoentes da cultura, desde tempos imemoriais. Tema recorrente nas músicas do São João, é mesclada com alegria, tristeza e lamentos por intérpretes de diversas matizes musicais. Luiz Gonzaga, ícone de nossa música, em uma de suas canções, ilustra de forma pungente, como o cantador, chorando suas lembranças, desabafa suas dores: saudade, meu remédio é cantar... Os fazedores de balão, também expressam esse sentimento, através de sua arte, que em harmonia com o céu salpicado por estrelas saltitantes, proporcionam espetáculos extraordinários, nesse período especial, quando a natureza em festa, nos convida a celebrar a vida de nordestinas vivências, duras labutas e sofridas vitórias.
Que na extensão das festas juninas possamos ser como crianças, ávidas por brinquedos e novidades, que nos façam evoluir espiritualmente; que os utópicos amores se transformem em amores universais e subam como balões multicores em busca de dimensões impensadas; que nossa fé permaneça inabalável, mesmo em circunstâncias desesperadoras e de destruição de sonhos como os nos dias atuais; que o amor seja vivenciado e, expressado, transforme-se em algo sólido em nossas longas jornadas em busca por uma vida iluminada. Viva São João!!!!
Airton Santos, 24.06.2021 – airttonsantos@yahoo.com.br – tel. 71- 98254-2169
Comments