Para nós, do Nordeste, a felicidade é colorida. Pensamento, raramente expresso, pois sempre procuramos vivenciá-lo, apesar de nossas dores, aflições e angústias. No entanto, esse colorido especial ganha conotações fantásticas em épocas juninas, porque, de forma mágica somos, irremediavelmente, invadidos por memórias magníficas dos nossos tempos de criança e juventude.
O colorido que se expressa nas bandeirolas, nas roupas, nos fogos de artifícios e, inevitavelmente nos olhos que brilham, interpreta os sentimentos e fogueiras que trazem os ávidos corações. Peculiares são os fomentadores de sonhos, mãos inábeis e grosseiras de uma vida dura que usam balões juninos como arte mágica para expressar o seu amor e projetar os seus sonhos.
Mãos que exprimem nas extremidades dos dedos, os sonhos e saudades. Universos singulares, que se irradiam em fluxos contagiantes, fazem prosélitos, trazem os amantes e, em ondas poderosas, fazem surgir os amores que se identificam e se compreendem profundamente sem necessidade de muitas palavras.
Trovadores, cantadores e repentistas, como em uníssono captaram os sentimentos de outrora e verbalizaram a máxima: olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo, olha para aquele balão multicor, que lá no céu vai surgindo. Céu, estrelas distantes e frias, fogueiras, juras de amor e cenários de sonho. Celebremos os folguedos e brindemos à vida. Ela não espera.
Envoltos em espessas brumas que o tempo, teimosamente, insiste em apagar de nossas memórias, os festejos juninos de outrora, sagradamente guardados nos corações, permanecem cristalizados nas mentes, como mecanismos de defesa dos tesouros que enriquecem nossa essência. Para além do aqui, para além do agora, serão revisitados no porvir com os olhos d’alma, daqueles, cuja imaginação encontre campo fértil para as sementes que árvores genealógicas semearam com diferentes estórias e folguedos como se fossem sonhos que impregnaram essa fase crucial de nossas vidas.
Que elas lhes permitam viajar, assim como fizemos. Nesse tempo mágico e ilustrado com as mais belas lembranças e estórias, habitaram nossos mundos, personagens que nos foram importantes e, marcaram profundamente nossas vidas, enchendo-as de significados. Sem dúvidas, muitas moldaram nosso futuro, fazendo-nos enxergar a vida com mais leveza, poesia e profundidade.
Saudade! Sentimento que resiste, insiste e impõe sua presença. Apresenta-se às vezes nostálgica, às vezes incômoda, às vezes reconfortante. A imaginação uma de suas aliadas, nos faz viajar e reviver momentos inesquecíveis ao lado de uma fogueira rodeada de intenso frio e os muitos amigos que nos faziam brindar à vida, repletos de ilusões. Lamentavelmente, Chronos se impõe, não dando espaços para despedidas. O balão que parte deixa saudades e leva consigo alegrias e esperanças.
Tema recorrente nas músicas do São João, é cantada e imortalizada em verso e prosa pelos mais diversos expoentes da cultura com alegria, tristeza e lamentos. Luiz Gonzaga, ícone de nossa música, em uma de suas canções, ilustra de forma pungente, como o cantador, chorando suas lembranças, desabafa suas dores: saudade, meu remédio é cantar.
Os fazedores de balão, também expressam esse sentimento, através de sua arte, que em harmonia com o céu salpicado por estrelas saltitantes, proporcionam espetáculos extraordinários, nesse período especial, quando a natureza em festa, nos convida a celebrar a vida de nordestinas vivências, duras labutas e sofridas vitórias.
Que na extensão das festas juninas possamos ser como crianças, ávidas por brinquedos e novidades, que nos façam evoluir espiritualmente; que os utópicos amores se transformem em amores universais e subam como balões multicores em busca de dimensões impensadas; que nossa fé permaneça inabalável, mesmo em circunstâncias desesperadoras e de destruição de sonhos como nos dias atuais; que o amor seja vivenciado e, expressado, transformando-se em algo sólido em nossas longas jornadas em busca por uma vida iluminada como as fogueiras do São João.
Airton Santos - airttonsantos@yahoo.com.br – tel. 71- 98254-2169
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