
Mais uma eleição se aproxima, e a sensação de déjà vu é quase inevitável. Promessas vazias, discursos decorados, mas, no fundo, o que realmente muda? A cada ciclo eleitoral, o sentimento de impotência cresce, como se as decisões que moldam o futuro estivessem sempre nas mãos de outros. Ficamos apenas assistindo, esperando por uma transformação que parece nunca chegar. Mas será que precisa ser assim?
No centro de qualquer mudança real está a educação. Não é clichê, é uma verdade fundamental. A educação é o concreto que pode erguer as pontes de que tanto falamos — pontes que liguem o centro à periferia, os que têm mais aos que têm menos, a esperança à realidade. Porém, o que muitas vezes esquecemos é que a responsabilidade de construir essas pontes não é apenas dos políticos. A comunidade, os cidadãos, somos nós a mão de obra dessa obra essencial.
A educação pública de qualidade é o alicerce de uma sociedade mais justa, mas esse alicerce não se ergue sozinho. Se deixarmos essa tarefa apenas nas mãos dos gestores públicos, o ciclo de promessas não cumpridas e ações insuficientes continuará. Temos visto isso há anos: o declínio constante da qualidade da educação pública e, com ele, as oportunidades de futuro para nossos jovens sendo minadas. A verdadeira mudança precisa começar de baixo, e a base somos nós, os cidadãos.
A mudança começa no enfrentamento da realidade. Enfrentar essa realidade pode ser difícil, mas não é impossível. O "dragão" da educação pública pode ser domado, mas somente se houver interesse genuíno de todos. E aqui está o ponto-chave: o envolvimento da comunidade, da família e das pessoas que realmente se importam com o futuro. Não podemos mais confiar cegamente em gestores que, muitas vezes, nem colocam seus próprios filhos nas escolas públicas. Daí surge a nossa exigência: “que gestores e professores utilizem a educação que constroem, que matriculem seus filhos no sistema público que gerenciam.”
Além disso, não podemos ignorar que a educação também é o caminho sólido para enfrentar questões profundas que afetam nossa sociedade. Homofobia, feminicídio, preconceito racial, entre outros males, são expressões de uma ignorância arraigada, e a única maneira de desmantelá-los é por meio de uma educação que ensine não só o conhecimento acadêmico, mas também a empatia, o respeito e a inclusão. Cada sala de aula é um espaço potencial de transformação, onde as crianças e jovens podem aprender que as diferenças nos fazem mais ricos, não mais distantes.
A educação tem o poder de desconstruir estereótipos e preconceitos. Quando ensinamos sobre a história das lutas raciais, sobre a importância do respeito à diversidade de gênero e sobre a igualdade entre homens e mulheres, estamos pavimentando o caminho para uma sociedade onde o feminicídio deixa de existir, onde o racismo é erradicado, onde a homofobia não encontra espaço. O ambiente escolar é o lugar onde essas transformações começam, formando cidadãos conscientes de suas ações e de seu papel em construir uma convivência harmoniosa.
Se a educação é o concreto, a comunidade é a mão de obra. Chegou o momento de abandonarmos a postura passiva e de intervir diretamente, antes que a qualidade do ensino público se deteriore ainda mais. Precisamos nos organizar, formar comissões de pais, professores e cidadãos comprometidos. Precisamos estar presentes nas escolas, participando das reuniões, tomando parte das decisões que moldam o futuro das crianças. O sistema só mudará quando for pressionado de dentro, pela própria comunidade.
Agir é urgente. E essa ação vai além do voto consciente, que muitas vezes significa apenas escolher o "menos pior". Precisamos cobrar daqueles que elegemos, exigir que cumpram suas promessas. Isso implica criar espaços de diálogo dentro das nossas comunidades, discutir o que podemos fazer para melhorar a educação local. Significa também deixar de esperar que a solução venha de cima e começar a transformar as coisas com nossas próprias mãos, na base.
A escola não pode ser apenas um lugar onde enviamos nossos filhos para aprender o básico. Ela precisa ser um espaço vivo, de transformação, onde cada aluno sente que sua voz importa, e onde os professores sabem que têm o apoio necessário para fazer o melhor trabalho possível. A educação pública precisa ser um projeto compartilhado por todos, não uma responsabilidade abandonada nas mãos do governo.
Embora a realidade da educação pública muitas vezes nos desanime, há exemplos, mesmo em pequenas iniciativas, que mostram como a mobilização da comunidade pode fazer a diferença. Seja em um mutirão para melhorar a estrutura da escola local ou em grupos de pais exigindo transparência, essas pequenas vitórias nos mostram que é possível reverter o quadro.
Porque, no fim das contas, o que estamos construindo não é apenas um futuro melhor para nossos filhos, mas para os filhos dos nossos filhos, e para toda a sociedade. Quando a comunidade se envolve com a educação, estamos construindo pontes — não apenas entre pessoas, mas entre gerações. Estamos transformando o sonho de uma vida mais justa, mais feliz e mais segura em realidade concreta.
Este domingo é mais do que uma simples eleição. É uma oportunidade de lembrarmos que a mudança começa em cada um de nós. Não espere por promessas. Seja parte da construção das pontes que precisamos. A cada ação que tomamos, a cada passo dado para melhorar a educação, um muro começa a cair, tijolo por tijolo, enquanto as pontes começam a ser erguidas pela força da nossa união.
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